A Rosa Inglesa
From Gardens Where We Feel Secure
Virginia Astley
Capa da edição original (1983)
De vez em quando apetece-nos desenterrar um daqueles ossinhos há muito escondidos na terra húmida do quintal das traseiras. Para voltarmos a mordiscá-lo. Há ossos que não perdem o seu sabor, por muito tempo que permaneçam enterrados. Hoje veio à superfície um disco chamado From Gardens Where We Feel Secure, primeiro trabalho de Virginia Astley. Aquela a quem chamaram the english rose.
Publicado em 1983, From Gardens Where We Feel Secure é a banda sonora de um dia de Verão, as memórias de infância de um dia passado no campo, da manhã até ao entardecer. Uma peça de estrutura clássica, assente em piano e flauta e marcada pela presença de sons da natureza, pássaros, sinos de igreja e toda a sorte de ruídos campestres que recriam a ambiência bucólica dum picnic in the english countryside. Virginia Astley, compositora de formação clássica, flautista, teclista e soprano, fundava o género pastoralia, cuja influência chegaria a lugares tão longínquos quanto The Orb ou Ultramarine (os autores do magnífico United Kingdoms). Um género onde a música tem um encontro feliz com a poesia.
Astley cultivava o low profile e rodeava-se de uma reserva impenetrável. Avessa à exposição pública e ao universo pop, Astley publicou sempre através de pequenas e desconhecidas editoras. Produziria ainda mais dois álbuns da sua autoria e, através da sua ligação profissional a Ryuichi Sakamoto, viria a colaborar com David Sylvian para um dueto na canção Some Small Hope. Apareceria ainda como consultora em trabalhos de Anna Domino, Martin Stephenson e Pete Townshend (líder dos The Who), seu cunhado. Em 1987, Virginia abandonaria definitivamente a carreira artística para se dedicar em exclusivo à educação da sua filha Florence, na qualidade de mãe solteira. Faria uma única aparição depois disso, em meados dos anos 90, ao lado de Kate St. John (que fez parte dos Dream Academy) e de Roger Eno (sim, o irmão de Brian Peter Jorge St. John Baptiste de la Salle Eno), curiosamente em Portugal. Depois, nada mais.
Até há bem pouco tempo uma raridade quase impossível de adquirir, From Gardens Where We Feel Secure foi reeditado recentemente pela Rough Trade, por ocasião do 25º. aniversário desta etiqueta. Esta reedição (2003) tem uma nova capa, pelo facto de se ter perdido o artwork do disco original. O encanto da música mantém-se. E o seu encontro feliz com a poesia acontece.
14 Comments:
LP e cd, sempre a escutar esta música eterna.
Mário
retorta.net
Pensava que a Rosa de Inglaterra era a Lady Di (ex-princesa e actual defunta).
"De vez em quando apetece-nos desenterrar um daqueles ossinhos há muito escondidos na terra húmida do quintal das traseiras. Para voltarmos a mordiscá-lo. Há ossos que não perdem o seu sabor, por muito tempo que permaneçam enterrados."
Não conhecia esta sua faceta canibal... estamos sempre a aprender!!!
Com ternura e carinho,
BlacKSheep
P.S.: Também não sabia que tinha um quintal... ainda por cima nas traseiras...
Oi, vim retribuir a visita a propósito dos DaWeasel e gostei bastante dos vossos "Dias"...A paixão pela música que encontrei aqui é como a paixão deste grupo pelo cinema: http://www.fabricalumiere.blogspot.com/
Visitem-nos e continuem o bom trabalho no blog.
Correndo o risco de parecer pouco inteligente, digo que fiquei curiosa com esta Virgínia, pois não conheço. E gostei também da forma como o texto está escrito. Beijo
Ossos é como restos... não são uma boa alimentação (e depois de enterrados blarrrgggghhhhh)
Também pouca gente conhece a Mona Lisa e ela é famosa.
Não conhecia... mas este post deu-me vontade de conhecer. Têm uma cultura musical fantástica!
De facto, muito bom, este jardim da Virginia. O artwork não se perdeu, e está presente, estampado, no cd da reedição, uma espécie de negativo.
Sobre o Coliseu, parece que o Toni Carreira vai encher a casa 3 dias...
O que pouca gente sabe, mas consta por aí, é que parte dos temas foram escritos em Portugal
Não tem a ver com o Post....
Todos me perguntam se ontem gritei. ..
Não cheguei a gritar...consegui passar por tudo sem gritar. Por vezes o meu corpo sentia-a com tanta intensidade que quase desmaiava. A cama parecia tremer de tempos a tempos...mas eu dizia para mim mesma " Não grites, olha os vizinhos, ...assim vão ouvir-te" .
E recolhia o grito na garganta. A cabeça às voltas e o corpo, de novo, a querer sucumbir...mas não GRITEI! Estava toda molhada e o suor cobria-me o corpo todo...
Era da febre, hoje estou melhor...a dor de cabeça já passou e EU NÃO GRITEI!
Esta é a febre e dor de cabeça mais sensual do blog....uf!
Ainda tenho a velha cassete gravada por um amigo de Almada.
i feel secure :D
beijos
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