quarta-feira, janeiro 26, 2005

I live for the applause!


Confesso: sou absolutamente fanático por tudo o que este senhor produz. Chama-se Neil Hannon, nasceu na Irlanda do Norte há cerca de trinta e cinco anos e veio ao mundo para nos encantar e para nos infernizar. Neil tem o toque de Midas e é o génio por trás dos Divine Comedy, uma formação de geometria variável que se ajusta à medida certa dos caprichos e inspirações do seu criador. Já toda a gente ouviu pelo menos um tema dos Divine Comedy, mesmo que não o saiba. A sua música faz parte do património genético-cultural de que somos portadores, facto que se (re)descobre no instante em que os ouvimos pela primeira vez. E se volta a descobrir em todas as vezes seguintes.

Neil Hannon não passa de um incorrigível romântico, disfarçado de snob cínico, na melhor tradição britânica. Um humilde e envergonhado menino prodígio que exclama de forma exuberante um obsceno - I live for the applause! perante a esmagadora audiência do London Palladium, ao mesmo tempo que omite descaradamente a palavra arse na referência à dimensão dos traseiros das hospedeiras aéreas, no verso ...but it’s hard to get by when your arse is the size of a small country, do tema National Express. Um comboio onde todos viajamos, sofremos e sorrimos. Para além da melhor música que se tem feito, este senhor tem também escrito da melhor poesia que se tem ouvido, profusamente ilustrada com referências literárias eruditas e verdades amargas comuns. E ainda canta admiravelmente. Enquanto toca displicentemente uma série de instrumentos musicais e conduz as orquestras que o acompanham (Neil Hannon é o cérebro do projecto Punishing Kiss, de Ute Lemper, que reuniu à mesma mesa Tom Waits, Elvis Costello, Philip Glass, Scott Walker e Nick Cave).

Quando se voltar a enviar uma cápsula para o espaço contendo registos que caracterizem a espécie humana, bastará lá colocar um disco dos Divine Comedy para que todos fiquemos adequadamente retratados. No que todos temos de comédia e de drama, no que vivemos de ilusão e de dissabor, no que somos de sofisticado e de simples. De humano. Com a miséria e a grandiloquência com que só Neil Hannon é capaz de vestir o que faz.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

I met a boy... he was a frog princess...

7:23 da tarde  
Blogger O Puto said...

O Neil Hannon já garantiu o seu lugar na história da música pop.

1:24 da manhã  

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