quarta-feira, janeiro 19, 2005

Chemicals between us


Uma sirene no ar anuncia o raide iminente. Os corpos agitam-se. Toque e deixe-se tocar. Não há muralha ou abrigo que lhe valha. O ataque chega em doses maciças. Obsidiante. Sinta a batida, frenética e primordial, pura e despida. Dispa-se. Não se ressinta se sentir que ressoa... ao suar. Pelo corpo todo, agitado. É químico. E definitivamente físico.

Nascidos dos esteios erguidos por grupos como os Public Enemy, Cabaret Voltaire, Beastie Boys, My Bloody Valentine, Renegade Soundwave, The Chemical Brothers surgem em 1992 nos clubes alternativos de Manchester (Hi, nice to meet you, Madchester para os amigos), então a capital musical do mundo. A mesma cidade que viu nascer Ian Curtis e os Joy Division, Morrisey e os Smiths, a Factory, que via agora eclodir o electro-sound, o primado dos ritmos e da batida, trazidos pelos novos emissários, os grupos onde os DJs eram autores: Underworld, Prodigy, The Orb, 808 State. Como os Chemical Brothers, quimicamente instáveis, prontos a reagir sem catalisador, misturando ingredientes de acid-house, hip-hop, inventando o big beat. Provocando a agitação dos corpos nas raves nocturnas de Blackburn e em catedrais míticas como a Hacienda e o Chicago Warehouse ou no Naked Under Leather (clube tão interessante quanto o seu nome sugere). A mesma fórmula química que havia de inspirar Fatboy Slim (nas suas próprias palavras).

Formado pela dupla Ed Simons e Tom Rowlands, os Chemical Brothers publicaram e remisturaram regularmente ao longo de dez anos, firmando a sua reputação. Sendo as vozes principais num grupo sem cantor de serviço, foram completando o puzzle por via de convidados ilustres como Noel Gallagher (Oasis), Bobby Gillespie (Primal Scream), Hope Sandoval (Mazzy Star), Bernard Sumner (New Order), Jonathan Donahue (Mercury Rev) , Wayne Coyne (Flaming Lips) e Beth Orton. Quando não havia cantor, era servido o techno adrenalinizado, ao melhor estilo fucking with formats.

Numa altura em que a cena de dança inglesa perde fulgor (a categoria Best Dance Act foi este ano, pela primeira vez, excluída dos Brits Awards, dada a alegada perda de ímpeto daquele género musical), os Chemical Brothers regressam com Push The Button, o quinto álbum de originais da formação, com estreia mundial no próximo dia 24 de Janeiro. Procurando inverter aquela tendência, apostam forte numa reinvenção de si próprios, com canções onde se reconhece as traves mestras do som químico e a exploração de novas paragens. Na lista das special guest stars encontramos Q Tip (A Tribe Called Quest), Tom Burgess (Charlatans) e Anwar Superstar. O single de estreia é Galvanize, que já rola por aí, mas recomendamos vivamente que não impeçam o corpo de se agitar com Surface To Air, que já tivemos o privilégio de apreciar (passem à frente de Left Right). Como diz Pete, um amigo meu, now they’re older and wiser than back then. But, hey… what do I know? I’m just a guy from Manchester.


You can't run. You can't hide. Let's push the button.

Play loud.

  • Quem repara nessas coisas não vai deixar de registar que neste álbum existe um claro conflito entre forma e conteúdo: não obstante a excelente música que contém, Push The Button é desde já um forte candidato ao prémio de pior capa do ano. Mas a temporada ainda vai no início e o género humano nunca cessa de nos surpreender...

1 Comments:

Blogger O Puto said...

Ainda são os resistentes da música de dança para o grande público. E este álbum é prova disso, da instituição em que se tornaram.
O melhor grafismo é o do "Surrender" e dos singles dele extraídos.

1:21 da manhã  

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