Olá, 2005!

Um Ano Novo cheio de coisas boas e intensas para todos.
E muita música!

Reengenharia

Jazz meets Electronica
A ideia consiste em andar ao contrário, seguindo o percurso inverso ao que é habitual: músicos de jazz interpretam versões acústicas de temas modernos do house e da música electrónica. O conceito foi inicialmente proposto pela editora germânica Infracom para celebrar a passagem do seu décimo aniversário, convidando o trio [re:jazz] para reformatar uma selecção de composições do seu catálogo. Em seguida entregou as versões reinterpretadas pelos [re:jazz] a diversos produtores (Nicola Conte, Russ Gabriel, Ras, Jazztronik, etc.), que as remisturaram de novo no formato electrónico, obtendo-se o álbum [re:jazz] (re:mix), lançado no final de 2002.

[re:jazz] = reverse engineering
Surge agora Point of View, o novo álbum dos [re:jazz], com versões jazz de temas dos Soul II Soul, Rockers Hifi, Air, Jazzanova, U.F.O. e Kruder & Dorfmeister, entre outros. A frescura conseguida com esta reengenharia é admirável. Nas palavras de Jan Hagenkötter, produtor dos [re:jazz], qualquer amante de música, músico ou DJ tem o seu modo próprio de se alinhar com a música que o rodeia e o influencia. Todos nós temos artistas e canções que nos acompanharão para sempre, músicas que invocam memórias e vivências individuais. (...) Escolhida a música com base neste critério, adaptámo-la de acordo com o nosso ponto de vista pessoal. O nosso background é o som dos clubes e discotecas dos anos oitenta e noventa. Somos todos DJs.

Uma excelente proposta para um ano novinho em folha.

Oficial e Cavaleiro

Etienne Daho nasceu na Argélia em 1957, filho de pai militar e de mãe química. Os pais separaram-se durante a guerra da independência argelina e Etienne, com seis anos de idade, foi enviado para a casa dos avós em França, onde possuíam um pequeno bar-mercearia. Cresceu ao som da pop francesa que se soltava da jukebox do bar e apaixonou-se pelo Yé-yé de Sylvie Vartan e Françoise Hardy.

Há mais de vinte anos que publica regularmente, alcançando um sucesso notável dentro e fora do seu país. Colaborou com nomes que vão desde Jane Birkin ou Charlotte Gainsbourg até Chris Isaak, Marianne Faithfull e Vanessa Daou. É descrito como um homem do seu tempo e considerado um dos mais dignos representantes da música moderna francesa. É desde 2002 Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito, uma honra pouco comum para uma estrela pop francesa.

Lisboa é uma das suas cidades favoritas. Para Lisboa escreveu um dia uma canção chamada Saudade, cujas palavras não resistimos a transcrever.

En ce mai de fous messages, j'ai un rendez-vous dans l'air
Inattendu et clair, déjà je pars à ta découverte
Ville bonne et offerte
C'est l'attrait du danger qui me mène à ce lieu
C'est d'instinct qu'tu me cherches et approches
Je sens que c'est toi

C'est à l'aube que se ferment les prunelles marine
Sous quel méridien se caresser, dans mes bras te cacher
Dans ces ruelles fantômes ou sur cette terrasse où s'écrase un soleil
Tu m'enseignes le langage des yeux, je reste sans voix

Les nuits au loin tu cherches l'ombre
Comment ris-tu avec les autres
Parfois aussi je m'abandonne
Mais au matin les dauphins se meurent de saudade

Où mène ce tourbillon, cette valse d'avions
Aller au bout de toi et de moi
Vaincre la peur du vide, les ruptures d'équilibre
Si tes larmes se mèlent aux pluies de Novembre
Et que je dois en périr, je sombrerai avec joie

Etienne Daho, 1991

Best of...

Por esta altura é costume rever a matéria dada e escolher o melhor do ano. Decidimos fazê-lo sem hierarquia ou alinhamento, deixando esse aspecto ao critério alheio, em função dos gostos ou preferências de cada um.

• Wilko A Ghost is Born
• The Streets A Grand Don't Come For Free
• Tom Waits Real Gone
• Nick Cave & The Bad Seeds Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus
• Brian Wilson Smile
• Air Talkie Walkie
• Scissor Sisters Scissor Sisters
• N.E.R.D. Fly or Die
• Björk Medúlla
• Don Byron Ivey-Divey
• Leonard Cohen Dear Heather
• The Divine Comedy Absent Friends

Faltarão coisas, certamente - uma lista deste tipo está sempre incompleta -, outras estarão a mais. Mas estas são algumas das produções do ano que têm em comum termos ouvido e gostado. Em jeito de balanço, este foi um ano ecléctico, com uma grande profusão de géneros a conviver entre si e a conquistar a nossa atenção.

A música está viva e recomenda-se.

Pecado!

Esta senhora chama-se Anne Sofie Von Otter e nasceu na Suécia em 1955. É meio-soprano e canta peças de compositores clássicos como Berlioz, Handel, Bach, Mozart ou ainda os soturnos Schubert e Schumann, entre outros. Publica pela prestigiada e exigente editora de música erudita Deutsche Grammophon desde 1985. A solista é conhecida pela forma austera como interpreta os seus recitais e óperas e tem recebido regularmente prémios internacionais pelas suas actuações.

Em 2001, Anne Von Otter já havia cruzado a linha imaginária que separa a música séria da outra, com um álbum produzido a meias com Declan Patrick MacManus, também conhecido por Elvis Costello. A solista prepara-se agora para lançar um novo disco, pela etiqueta DG, em que canta canções assinadas pelos Abba, deixando as elites de gosto refinado à beira de um ataque de nervos. Imaginam-se já os trinados que canções como Money, Money, Money poderão inspirar. Como diz o provérbio, 'nunca digas estes Abba não cantarei’.